terça-feira, 21 de agosto de 2012

O valor do germanismo em Tobias Barreto,um olhar de Cruz Costa.

O valor do germanismo em Tobias Barreto,um olhar de Cruz Costa.


‘Colabore ,pois, V.S., a fim de quem também nós , em breve, possamos exclamar com o poeta: A Alemanha acima de tudo ! Acima de tudo no mundo!”(monografias em alemão, pág 71)


Um dos principais problemas da filosofia no Brasil na segunda metade do século XIX é exatamente descobrir como uma filosofia advinda da Alemanha poderia melhorar ou aperfeiçoar nossa cultura autóctone, dando a ela um aspecto mais “civilizado”.Muitos autores se dedicaram a essa tarefa.Entre eles , sobremaneira,Tobias Barreto,que tinha como projeto maior de sua saga filosófica cultural arranjar um meio de implementar ou adequar o modelo europeu de progresso econômico/cultural ao “norte” do Brasil.Diante de tal quadro esse artigo tem com objetivo revelar as possíveis causas do insucesso histórico desse projeto filosófico evidenciando os aspectos econômicos materiais, políticos e culturais que o levaram ao fracasso.Para isso tentaremos analisar o problema do ponto de vista histórico filosófico detalhando aspectos divergentes e congruentes dessa culturas diversas tentando reconstruir um pouco da mentalidade do século XIX em relação a idéia de predomínio e subordinação cultural.Assim, a princípio, definiremos o conceito e o impacto do germanismo sob ao aspecto filosófico, cultural e econômico da região , em seguida discutiremos o conceito de progresso e todas as suas conotações políticas e econômicas e, por fim detalharemos a idéia de cultura avançadas e atrasadas do ponto de vista antropológico.

I) O germanismo no século XIX




Antes de tudo, é preciso definir ou especificar o termo germanismo ao âmbito filosófico cultural para não confundi-lo com o processo de formação das línguas germânicas. Germanismo, no sentido filosófico, refere-se, mais especificamente, ao movimento que prega a supremacia da cultura alemã sobre as outras culturas,seja no campo político institucional, seja no campo filosófico científico. Pelo menos é assim que se pensava na segunda metade do século XIX. Naquele tempo havia toda uma preocupação em transformar a cultura brasileira ou fundamentar uma idéia cultura brasileira em modelos calcados no ideal civilizatório europeu. Isto porque se acreditava à época que a filosofia idealista alemã seria o antídoto para o estagio de indigência mental e estagnação intelectual reinante no país imposto pela a hegemonia da igreja católica em questões de índole científica e filosófica. A aparente secularização do saber proposto pelo os idealistas alemães, desta forma, reconduziria a razão, a grande musa, quase deusa, ao ponto máximo da hierarquia do conhecimento, esclarecendo e reconduzindo a humanidade ao caminho da reta razão e ao progresso material e científico.
Tobias Barreto respirava este tipo de pensar. Mesmo estando ou advindo de uma cidade pequena de um estado pequeno do norte do Brasil praticamente ou totalmente agrícola, no sentido da subsistência, ele em sua formação intelectual autodidata, via e antevia a mudança de tal conjuntura sócia política pela introdução crescente de um modo de pensar totalmente alheio a sua realidade material e histórica. A idealização da Alemanha como berço cultural da humanidade só revela um traço marcante do pensamento colonial católico de que tanto queria fugir; a reprodução quase automática do modelo europeu de pensar e agir, agora, numa versão racional filosófica da questão. É neste sentido que a crítica de cruz costa se dirige ao mostrar como o pensamento de Tobias Barreto ainda se ressente de um passado colonial de subordinação intelectual que não procura na sua realidade material as condições necessárias para que tal ideal civilizatório venha a acontecer.
Isto porque, ainda segundo, Cruz Costa, apesar de prestar o devido reconhecimento a Tobias Barreto quanto a sua interpretação da realidade cultural brasileira, ele se limitava a pensar como a filosofia vinda do exterior podia melhorar a cultura brasileira sem se importar com as conseqüências dessa adequação no campo das idéias.Em outra palavras : como uma população praticamente faminta e sem nenhuma condição de produzir seu próprio sustento material no dia a dia podia ler digerir o aufklãrung alemão ? A crítica perpassa, então, pela raiz material e histórica que as idéias têm em sua s origens reais, ou melhor, pelo processo econômico e político que realmente a produziram. Excluído deste contexto a exaltação da cultura germânica descamba para um mero comentário entusiasmado de quem entende ou repete bem o pensamento estrangeiro por mero diletantismo. Nas palavras de Cruz Costa:

“As idéias alemãs, recomendadas inicialmente por Tobias Barreto como capazes de nos dirigem no caminho da verdade, acabaram empolgando de tal modo o professor sergipano que, como ele mesmo reconhecia mais tarde, transformaram-no num maníaco da Alemanha. O seu entusiasmo, a sua fé teutonica ,levá-lo-iam ao ridículo de publicar numa cidadezinha , em que o número de analfabetos devia ser elevado , um jornal em língua alemã , o Deutscher Kämpfer escrito e composto por ele e , muito provavelmente apenas por ele lido... E isso ,numa cidade onde ( o próprio Tobias Barreto denunciaria esse fato) a justiça estava às ordens dos senhores rurais como instrumento da sua arbitrariedade , revelando o lamentável atraso da terra...Tal é o resultado a que chegam aqueles que crêem isolar-se do meio em que vivem e que se alimentam de fantasias exóticas.”In : As idéias no Brasil na última fase do século XIX(Pág. 290)

Esta crítica de Cruz Costa poderia ser aplicada a toda inteligência da época que ainda percebia na cultura estrangeira um meio de sairmos do nosso atraso social e econômico. Isto porque mesmo não percebendo Tobias Barreto também foi vítima desse contexto perverso de subordinação cultural que era amparado no papel brasileiro de mero produtor de matéria-prima dentro da economia mundial. Para piorar ainda mais esse cenário de inferioridade econômica no contexto global, há também o fato de que as idéias tobinianas estavam destinadas a um público completamente a margem no próprio contexto interno, o norte do país, praticante de agricultura de exportação, a popular plantation,por parte dos grandes latifundiários e de uma incipiente agricultura de subsistência pela a maioria da população explorada, sem terra,à beira da miséria e nas mãos desses mesmos senhores de engenho de mentalidade semi-escravocrata.
Como, então, entender a critica feita por Kant a metafísica tradicional, uma questão de origem na tradição filosófica européia, sem termos passado pelo mesmo desenvolvimento material e histórico vivido por ele. Não podemos, segundo Cruz Costa, negligenciar a realidade a nossa volta e nos atentarmos apenas para problemas criados e desenvolvidos em culturas totalmente diversas da nossa sob uma infinidade de aspectos, sejam de ordem social ou econômica. Reafirmando o que dissemos acima, antes mesmo de tentarmos importar um pensamento de uma cultura alienígena, devemos pensar como esse pensamento pode se tornar de fato vir materialmente a acontecer. Em outras palavras, não podemos fazer uma revolução somente no mundo do ideal, é preciso também transportá-la para a nossa realidade material, interpreta-la sob nosso ponto de vista e só assim avaliar a sua aplicabilidade, procedimento que Tobias Barreto não dominava direito.
Para entendermos melhor essa situação ou postura acrítica de Tobias Barreto devemos fazer um retorno ao panorama cultural filosófico do século XIX e as idéias e teóricos que muito o influenciaram, principalmente Ernest Haeckel.Naquela época havia um grande predomínio do pensamento científico nas rodas intelectuais.Não se admitia um pensamento como realista ou válido que não fosse baseado em regras estritamente racionais ou demonstráveis e qualquer pensamento contrário era tido como irreal ou fantasioso.Esta corrente também era reconhecida como naturalismo ou monismo, doutrina esta que proclamava a existência de uma única substância universal de que todas as outras derivavam.Isto porque, de acordo com Hackel, não há uma duplicidade mundos nem ao modo cristão nem ao modo platônico, sendo esta diferença um despropósito tendo em vista desconhecer completamente o desenvolvimento unívoco dos cosmos do qual fazemos parte.
Desta visão também compartilhava Tobias Barreto, ou melhor, ele não só compartilhava como também via nelas o modelo de desenvolvimento sócio cultural de que toda humanidade de veria tomar parte, inclusive, é claro, a região atualmente conhecida como nordeste. A visão da intelectualidade da época predominantemente católica não olhava com bons olhos essa novidade trazida do exterior. Daí a fama de Tobias Barreto de inovador entre a intelectualidade nordestina carente de ídolos locais: para a sua época e dentro de um contexto semi-feudal, que era e é a realidade nordestina, um pensamento contrário a estrutura católica de perceber e fundamentar a realidade cruel e desumana da população de camponeses nordestinos era tida como um avanço.
Apesar da visão naturalista da realidade não fosse mais uma novidade entre os europeus cultos da segunda metade do século XIX, estando eles no auge do ideal cientificista tão característico desse tempo, deste lado do atlântico elas estavam engatinhado. Sendo um dos introdutores dessas idéias inovadoras, o próprio Tobias Barreto, membro ilustre de nossa emergente classe letrada. Como não poderia deixar de ser, essa febre monista/naturalista, anunciada pelo nosso “lutador alemão”, logo se espalhará, tornando-se um símbolo de insubordinação aos ideais religiosos arcaicos vigentes e o principal antípoda deste. Tudo isto bem afinado com o que seu mentor intelectual Ernest Hackel ,dizia sobre o evolucionismo natural que contrariava , sobremaneira, a idéia tradicional de metafísica, que era baseada em dois princípios distintos , um de ordem material, outro de ordem espiritual ou imaterial.Quem não obedecesse estes princípios doutrinários do monismo materialista ético era considerado, por Tobias Barreto ,uma vítima de uma mentalidade agrícola e supersticiosa reinante e por isso mesmo devia ser suplantado pela idéias progressistas do naturalismo biológico predominante na época na Europa.
Progressivamente o espírito contagioso do naturalismo tomou conta de toda intelectualidade local. A evolução do espírito ou da cultura humana em seu todo seu conjunto era visto como o projeto racional da natureza, seu objetivo maior. Tobias Barreto, por sua vez, considerava-se o arauto dessas novas idéias e por muitos, era tido como intérprete supremo e sumo sacerdote dessa mentalidade revolucionária:

Apaixonara-se pela Alemanha no terreno das ciências e da filosofia. O germanismo insinuava-se em seu espírito e servia de símbolo contra a arquitetura ideológica do Brasil.Os anos antes haviam sido de estudos de Ernest Von Hartmann ,schopehauer, e a postura antifrancesa identificava-se com o parcial libelo contra o positivismo . Voltara-se inteiramente para a cultura tedesca, nela ainda extraindo as lições em crítica de religião.Correspondia-se com autores germânicos,enviando-lhes exemplares de jornais.Recebe de Hackel referência elogiosa feita a karl von koseritz, no rio grande do sul , que o enche de orgulho.(in:introdução,Tobias Barreto, feiticeiro da tribo,pág.23)

Baseado nesses princípios Tobias Barreto,como já dissemos anteriormente, planejava construir uma cultura brasileira amparada no biologismo e na história natural praticada na Alemanha da sua época.Isto porque acreditava na ciência como etapa final da evolução da humanidade e via na cultura germânica o berço civilizatório da cultura universal.Percebe-se, então, que por detrás de todo discurso crítico empregado por Tobias Barreto, há uma grande afinidade entre sua filosofia da natureza e as velhas correntes historicistas do pensamento alemão, que percebiam o espírito ou a cultura humana num desenvolvimento contínuo em vista a um ideal preestabelecido de conhecimento.
Mesmo não sendo totalmente original em seu pensamento, a sua mistura de evolucionismo biológico e determinismo moral de bases materialistas agredia a fundo a estrutura social vigente. A Elite latifundiária tremia de medo dessa dessacralização da realidade social e combatia esse lado iconoclasta. Os ídolos dessa sua investida feroz contra os dogmas sagrado da igreja católica revelava também por seu turno uma crítica a uma realidade política baseada no poder econômico desses senhores de terra que escravizava o povo sertanejo com auxílio da igreja, agente amenizador do sofrimento e dor da plebe inculta e incauta por intermédio da promessa de um paraíso em outro mundo, claro, para aqueles que servilmente aceitasse a ordem sócia política vigente como uma prova de humildade e servidão a Deus.

. A grande contrapartida deste discurso revolucionário era exatamente sua completa indiferença quanto o valor do próprio germanismo por estas plagas. Tobias Barreto, como é sabido, não era muito ligado a questões de crítica histórica e inseria, com isso, o norte do Brasil dentro de um contexto histórico universal que teria de ser conduzindo necessariamente ao modelo científico e técnico, especialmente o alemão, o qual nosso autor era não só entusiasta, mas também conhecido proclamador desse padrão como única saída, não apenas para o atraso cultural da região, como também o único remédio disponível para a sua miséria.A grande questão a ser lançada , portanto,que o Tobias Barreto não fez, talvez por ser um pensador demasiado “metade do século XIX” , é como esse projeto da mãe razão se realizaria num ambiente completamente adverso, sob todos os sentidos, que era o nordeste brasileiro daquela época.
Perceber então do ponto de vista metodológico o pouco impacto do pensamento tobiático dentro contexto intelectual universal haja vista ser um mero repetidor das idéias européias sem tentar aplica-las na nossa estrutura social. Isto por que olhando o aspecto político de Tobias Barreto ele não era um homem de ação, acreditava ele que apenas com o discurso cientificista podia-se desenvolver uma região completamente devastada por séculos de exploração econômica sem primeiro compreender em nossa própria realidade a origem dos nossos males. uns dos trechos mais marcantes destes arroubos germanistas é o discurso inicial de Mein Kpfam ou lutador germânico, em que se percebe Tobias Barreto enaltecer o transporte cultura teutônica como a verdadeira panacéia para os males da nossa cultura atrasada:

“Mais do que nunca necessitamos, nós brasileiros, conhecer a Alemanha. Faltou-nos até agora um órgão capaz de ser arauto do grande povo de pensadores e críticos, então sois vós capazes de remediar esta falta e de preencher essa uma loucura tão sensível. O principal é inflamar o amor pelo germanismo entre nós e conduzir nosso espírito no caminho pelo qual mais rápida e seguramente as vantagens da formação mais recentes em vez do caminho até hoje trilhado, que muitas vezes sumiu na areia do sectarismo do francesismo” (m a pág. 69).



Diante do exposto fica evidente que por detrás do dessa demonstração exagerada de germanismo está implícito uma idéia de evolucionismo histórico herdada da própria cultura germânica que ele tanto amava. Quais seriam então as principais influencias teóricas do Tobias Barreto? A princípio, como, dissemos anteriormente, ele via no idéia de evolucionismo natural as bases de uma idéia de progresso baseada não mais em princípios católicos metafísicos., notadamente de caráter português e colonialista , mas em princípios de ordem natural empírica, que era visto naquele tempo como a ponta da idéia de avanço cultural .Tendo em vista esse contexto ufanista quanto o poder e alcance da ciência e da razão Tobias Barreto embarcou de corpo e alma na onda do monismo naturalista a la Haeckel,e voltou-se quase que exclusivamente em interpretar e sobretudo transportar de algum jeito esse espírito para nossa terra.
O naturalismo na época de Tobias Barreto conclamava em linhas gerais o total descrédito a toda e qualquer interpretação metafísica da realidade. Eram tempos da formação do modelo conceitual das ciências empíricas sendo este a única saída para as idéias atrasadas da religião quanto a temas como a a origem do homem e do próprio universo.A visão da origem do universo e do homem do ponto de vista religioso há muito vinha sendo combatida como uma visão atrasada e supersticiosa de conceber esses problemas.Para a maioria dos filósofos e cientistas da época não há possibilidade de formar um conhecimento preciso e seguro desses temas apelando para explicações de índole meramente especulativa ou metafísicas, sejam elas quais sejam, ou melhor, as causas finais ou explicações finalistas foram abolidas do discurso científico do século XIX
Desta feita,a história natural é o lastro de toda pesquisa que mereça ser chamada de científica.Não se aceita mais explicações sobre o universo e homem sob hipóteses religiosas ou metafísicas.As coisas do mundo de agora em diante só poderiam ser explicadas do ponto de vista empírico/matemático.O pensamento científico não quer mais especular sob fenômenos sobrenaturais.Ela se concentra na organização estrutural da realidade na perspectiva natural.O mundo é composto de espécies fruto de um desenvolvimento físico/biológico.O homem é mais uma delas.A mais inteligente de todas,mas ainda um ser natural.essa marca eminetemente alemã da ciência do século XIX embebedou Tobias Barreto de naturalismo.Uma cultura para ser avançada deve instruir seu povo neste sentido.Para isso deveríamos criar uma nova Germânia tupiniquim no pobre sertão nordestino onde a maioria da população mal tinha o que comer todos os dias.

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