SINTOMAS DA ESQUIZOFRENIA PARTE II(NÃO HÁ MAIS FANTASMAS NAS JANELAS)

refratário custo a sair do meu mundo

Seis meses se passaram desde a última crise.MInhas ideias estão cada vez mais claras.Desta vez , acertaram os remédios.

As oscilações entre paranóia e realidade estão menos frequentes.Agora,estou conseguindo identificar os sintomas por conta própria.

Me aprofundei no assunto.Li Jung,Lacan e Freud e descubri que a esquizofrenia não é apenas uma doença.Também é um universo.

Há  toda uma ciência e comércio por detrás da loucura

O louco é lucrativo.

Existe toda uma rede de profissionais em função da loucura.

A loucura é social

Não é lucrativo para o sistema que a loucura acabe.

Não há mais fantasmas nas janelas.

vejo a loucura de forma histórica

paredes para quem fala com as paredes

só tornam a loucura mais triste

um passo para um suicídio

uma via para mutilação

penso em Van Gogh

coço minha orelha

minha cabeça gira

ignoro as vozes


mais um dia de trabalho


acerto de percepção

SINTOMAS DA ESQUIZOFRENIA

compartilho meus eus
com o mundo
numa tentativa incessante de me encontrar
me desconstruo todo dia
procurando
uma base onde me fixar
âncora
me agarro sozinho
num inferno particular
em que os fantasmas se tornam reais
gritando em meus ouvidos
comandos de destruição
existe salvação ?
nos meus delírios existenciais
o destino é uma questão de opções
quando se pode tomá-las
falo comigo mesmo
tentando mais uma vez entender
o errado desta postura
se meu nome pode ser legião
existe sempre alguém
novo 
de novo
nascendo de mim
cão de três cabeças
não me cobre realidade
quando a crise se abate
sobre mim
mil olhos me vigiando
o tempo todo
Querem me matar
nos matar
tortura
então
entorpecem minha mente
numa tentativa deseperada de vigília
descarto velhas fórmulas de escrever poesias
nas ruas
não dou muito valor ao dinheiro
fama
e posições sociais
porque é o tempo
não o psiquiatras
que decifram a racionalidade
na loucura
fujo dos outros
para me esconder em mim mesmo
tomo meu remédio
as vozes se calam 
quando as percebo
sem carne
mundo frio
sem graça
mecânico
causa e efeito inexoráveis
na natureza
perverto
sua ordem
no meu mundo imaginário
Deus é só uma palavra
vazia.

GÁSTRICO NA CAMA

tolas

só mentem
ante a realização
de um desejo
nada de errado
até então
porém
cantilenas moralistas
sopram
da suas bocas
qual um vento
frio
seco
úmido
vindo
do fundo  de seus úteros
calcificados
por sentimentos mortos
encho um copo de vinho
vermelho
enquanto engulo isso
matei a amizade
para reiventá-la
mais uma vez
subi
o morro só
lúcido como alguém
que lavou o rosto
com água fresca
pela manhã
começo
nada demais
ser objeto
quando se é um
nada de enganos
nem por amor
tudo ao sol secante
do meio dia
ardência estomacal
refluxo
ela vai e vem
entra na sala
nervosismo
mexe nas panelas
GÁSTRICO
deita na cama
vômito
no assoalho
sopa de letrinhas
mentir para conquistar

UMA FARSA IGUAL

a rima perdida

de uma amizade abalada

concreto

só a descoberta

da virtude no virtual
um problema terreno:
Deus existe ?
essa pergunta nasce com a igreja
casa de gueixas:
não quero converter ninguém
tampouco ser convertido
quero viver a vida com arte
estar ao lado dela
numa parceria que resulte numa estética perfeita
isto chamo de vida
uma farsa sem igual
representemos o dia
em "ligações perigosas"
entrechoques
tentamos impor nossos desejos e vontades 
de forma educada
peço uma coisa e quero outra
aperto um cigarro aqui e ali
tomo um sorvete na praça
mangaba visguenta
no sol do litoral do nordeste 
minha mente arde
ganha aquele que tem mais personalidade
auto sugestão:ajude a si mesmo
procuro um contexto
falo de filosofias perdidas
no campo do estritamente pessoal
tudo é permitido
a lei quem cria é você
não é ?
foge do nosso controle
a razão ou astúcia é um mero instrumento de nossas carências
na maioria das vezes egoístas
por que então passar a vida toda bancando herói de telenovela ?
cansei de tentar tirar dez a vida toda
em moral e cívica
tirei a prova dos nove
quando a coisa pega
só quem está sentindo
sabe onde o calo aperta
numa sucessão de ondas gigantes que nunca param
arrebetam nas costas
barulho
depois o vácuo
no rastro de destruição
silêncio

CONSOLADORES DE JÓ

grande prova
de resistência
o bolso furado
caindo trocados pelas calças
escorregando pelas meias
fedor de cachaça
ziguezagueando pelas calçadas
falta de prumo
sempre fui um bom filho
de Deus 
na sua santa presença
não tinha comida na mesa
as crianças tinham olhos de fome
e minha mulher reclamava da sorte
com razão
o bodegueiro fechava a cara quando me via
e vagavamundo atrás de trabalho
um bico atrás de outro
Deus me esqueceu
só o diabo andava comigo
me diziam meus melhores amigos e parentes
afinal a miséria é coisa do diabo
uma atrapalhação da zorra !
mas ainda não tinha perdido minha fé
tenho uma alma barroca
vivo entre o sagrado e profano
as luzes e as trevas habitam meu corpo
qualquer coisa pago penitência
a aposta celestial
quero ver ele ter fé sem nada
com dinheiro todo mundo tem fé
fácil de acreditar
simonia
um dia cheguei em casa
mesma rotina
dinheiro contado
na televisão vendiam santinhos
todos ricos
indulgentes
um teto no céu  custa caro
saco cheio
Decido ignorar
Sua presença
melhoro no mundo.