MÚSICA,CACHAÇA E UMA VIDA FELIZ

Reabilitado de mais uma crise de asma, o tempo em Aracaju esfriou e com ele meu humor,mas depois de momentânea fase de spleen compulsivo, o sol voltou a raiar, apesar de ter chovido à noite, os pássaros cantam no jardim e as plantas esverdejantes parecem festejar por uma nova manhã.Agora estou fazendo um estudo sobre os escritores americanos,mais especificamente os realistas.Neste caso Bukowski.Aproveite uma reunião na casa da minha tia com alguns amigos para esclarecer alguns pontos que eles tinham dúvida sobre o assunto.Comecei falando da literatura fantástica de Bukowski, escritor muito lido, mas pouco entendido.Todos pensam que ele vivia só bebendo e fodendo.Bem, é o que pensam.Na verdade, ele se utiliza dos dramas do seu cotidiano, os seus e os os dos outros,para criar suas estórias fabulosas.Ele não imita, como em Aristóteles, em suas tragédias cotidianas, príncipes ,heróis de guerra,reis destronados.Os personagens principais são todos retirados do seu cotidiano de carteiro,pessoas comuns como ele e com qualidades e defeitos iguais as de qualquer um.O grande mérito de seus escritos é exatamente extrair do fatos cotidianos padrões comuns de compotamentos e atitudes humanas e vê-los em sua essência.Não são estórias apenas da imaginação,há toda um acontecido por detrás do que ele expressa,dando-lhe uma significação existencial/real,não é apenas um relato de experiências sexuais ou subjetivas.É mais do que isso:é uma análise profunda das características atuais do seres humanos revelada em seus acontecimento singulares.Um exemplo disso é seu conto " A máquina de foder "em "Crônica do Amor Louco".Ele descreve uma mulher mecânica , caracterizada pela incessante vontade de foder .Sua aparência física é a mesma do padrão ideal de mulher americana, peituda e e pernuda e de preferência sem muitas aptidões intelectuais.Uma perfeita mulher americana, modelo de mulher universal em nosso mundo globalizado.Apesar de fantástico, o conto se expressa de maneira realista ao fazer referência critica a um tipo de comportamento muito comum entre as mulheres atuais: a valorização maior aos dotes fisicos em detrimento aptidões intelectuais, as mulheres melancias da vida estão aí para não me deixar mentir.Quanto ao isolamento e a cachaça dos seus alter egos em seus contos advém da filosofia moral de Schopenhauer que vê na música e nas artes em geral a única solução para aliviar as dores do mundo.O mundo em Bukowski é caótico, sem muita forma e no seu universo todos as personagens são extremamente elas mesmas, sempre com o instinto de sobrevivência como principal motor de suas ações.O isolamento de Bukowski é uma forma de se afastar ao máximo dessa realidade para chegar a essência do acontecimento nele mesmo.É uma espécie de purgação etílica regada a música clássica.Dessa forma mortificadora Bukowski se liberta das coisas do mundo para voltar a elas de uma maneira direta sem apelar a juízos morais cristãos ou não.Portanto o pessimismo dele na realidade é uma forma de apiedar-se por essas criaturas sofridas e que também fazem sofrer como os humanos.Por isso que ele não participava de nenhuma movimento literário social da sua época ,como o movimento Beatnick.Para ele a salvação é individual, pela música e pela arte, e não por nenhum movimento politico social.Um exemplo disso, é que para ele" politica é que nem foder cu de gato".Isto porque não existe nada de novo que deva ser realmente digno de nota nos campos ideológicos de sua época,pelo menos do ponto de vista dos posicionamentos, esquerda ou direita.Na verdade há somente uma briga internacional pelo poder que  expressa no campo politico a vontade biológica cega e incessante das nações conservarem seus interesses particulares.Penso desse jeito,prefiro comer um peixe cozido ao coco,com bastante coentro, gengibre e pimenta a discutir certos assuntos pretensamente ideológicos. É melhor comer corvina ao molho de tomate,cogumelos e alcaparras,acompanhado de um bom vinho, escutando led zepelin e ruminando minhas ideias à noite do que ficar cercado de pessoas ao meu redor sem dizer nada de significante.É Bukowski , apesar das dores do mundo e do mundo cão e sem sentimentos existem a moqueca de corvina e o vinho amargo que as aliviam.Que bom!